Construções na Areia

“Construções na Areia” versa sobre a Póvoa do Varzim, cidade costeira, nortenha, arenosa, piscatória. Dado que este fascinante objecto editorial harmoniza a fotografia de António João Lima e o texto de Fernando Nunes, é de notar que, aparentemente, temos duas visões antagónicas sobre esta cidade: ao passo que todo o texto é perpassado por memória e sentimento humano, as fotografias desta cidade atestam espaços em branco, isto é, desprovidos de presença humana. Com efeito, o autor fotográfico apelida-as de “fotografias de arquitectura”, imagens que não pretendem ser “um retrato da decadência urbana acelerada”. Subjacente às fotografias temos todo o fazer e viver humano: edifícios, praias, praças e estradas, onde a vida citadina apenas se adivinha. E é precisamente nesta vertente de suposição que se materializa o que Fernando Nunes classifica como uma geografia urbana poveira, tida como “uma marca cravada na espessura da matéria que nos faz”. Por conseguinte, converge-se para a pedra basilar do livro: o mal civilizacional da “rápida construção” que “não é senão o contrário da serena edificação, o maravilhoso encontro do homem com o espaço edificado”. Consequentemente, ambos os autores apontam o dedo para um certo modo desordeiro e afanoso de se “fazer cidade”. Como esta cidade, há muitas em Portugal.